top of page
cida oliveira2 -.jpg

Artes Plásticas/Literatura

 

CONTO XVII - VAL

 

Dedicado a um amigo.

 

Este conto foi inspirado pela capa do meu segundo livro, Sentimentos Vindos D’Alma, em alusão ao lindo quadro pintado com os mais profundos dos sentimentos de um grande artista, chamado Luís Fernando Couto.

 

Lá vai ela, linda e esvoaçante em sua beleza sensual. Vestida sob a cor da compaixão e dignidade, nos permite imaginar uma tamanha angústia, contradizendo o seu significado. Seu corpo esguio é desenhado pelo manto rosa magenta, desvendando sua beleza íntima. Os pés caminham sobre a consciência isolada da sagrada terra. Parece estar correndo de algo, mas não nos deixa ver na expressão do seu rosto invisível.

 

Pernas firmes de andar preciso, seu contorno revela quão tamanha ansiedade de chegar a algum lugar. Seus cabelos parecem se confundir com o esvoaçar do lenço cor de rosa magenta. Nada parece intimidar aquela mulher. Nem mesmo as labaredas oscilantes dos pensamentos, entrelaçando nos cabelos, vestindo seu corpo e dominando o cérebro que grita por socorro numa cidade em lágrimas. Que mistérios havemos de encontrar na expressão daquela mulher?

 

Fechou-se no silenciar dos seus anseios e percorreu a cidade como se gigante fosse pela própria natureza em busca de respostas sem perguntas e perguntas sem respostas. O que será que está-se passando na mente invisível daquela mulher? Que mistério há de encontrar nas largas passadas de suas pernas e nos pensamentos envoltos a toda a cidade, mais parecendo chamas? Chamas de amor, de horror, de sofrimento, de pecado... de quê?

 

Val é uma mulher como tantas outras que pensam, choram, sorriem, amam. Amou e foi amada, desnudou seus desejos aflorados nas suas entranhas e permitiu a chama envolvente dominar seu espaço. Também foi rejeitada, levando para longe o seu sorriso.

 

Um belo dia, se trancafiou no interior de seus pensamentos e descobriu que o mundo precisava de luz. Viu o desespero de uma sociedade capitalista e desejou a conscientização das pessoas diante de uma sociedade mais justa. Presenciou o naufrágio de uma conquista de outrem por consequência de atos desumildes e ansiou que todas as pessoas adotassem a humildade. Viu o desespero nos olhos de uma criança quando desejou um prato de comida e lhe foi negado.

 

Percorreu seu interior e descobriu que havia a cura para a Aids, Câncer, Mal de Alzheimer, Transtorno Bipolar, assim como o Suicídio, Falsidade, Ódio, Miséria, mas nada pôde fazer. Forças invisíveis impediam esse progresso.  Sentiu a tristeza do mundo abraçando a cidade e nada pôde fazer. Restava apenas percorrer, como se pequena fosse, aquele mundo tão imenso e distante.

 

Val não quer saber de sofrimento, choro, injustiça, falta de humildade, misérias, mentiras. Val quer um mundo melhor, onde o amor e o respeito possam caminhar juntos para encontrar a verdadeira paz.

 

Val reside em qualquer lugar: nas ruas, nos bares, nos barcos, nas escolas, nas faculdades, nos hotéis, nas igrejas, nos lares, na sua casa, dentro de você.

Val é meiga e bonita, quer apenas ser feliz.

 

Cida Oliveira, escritora

bottom of page